É
quando as pernas se descruzam, estalam o salto no chão, fixam toda a força do
corpo nos pés, levantam-se e dão o primeiro passo. É quando as pernas se abrem
e dançam, balançam, quanto caminham em uma direção. Se exibem, se mostram, vão
atrás da felicidade, correm atrás de um amor mal resolvido, de uma nova chance,
de um futuro melhor.
Aqui tem pernas que se abrem para comer, para
alimentar e se alimentar. Pernas que se abrem por abrir, reluzentes a um
diamante, no banco do carona de uma Mercedes qualquer. Pernas que se abrem ao
máximo, para dar volta ao mundo, para chegar no último degrau. Pernas que sobem
de cargo, seduzem o chefe. Pernas que já se cruzam na chefia, pernas que pisam na lama, que se
abrem pra pular buracos, escalar montanhas.
O abrir das pernas que trás vida, que passa
todo um ser humano, uma nova luz. O . milagre. Pernas que se travam na cadeira,
que não andam, mas tem vida no peito. O mover das pernas que não existem, que
não nascem, mas que não deixam de correr atrás dos seus sonhos. Todas as pernas
que comandam, que fazem acontecer. As pobres pernas das putas e dos filhos da
puta, que passam em frente aos carros depois de mais um assalto. As pernas que
não pararam o carro, se estiraram no chão. As pernas em pé, num transporte,
parado no trânsito. Tudo em pernas que sustentam o mundo e é com elas que se
vai mais além.
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